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William Kentridge
O sul-africano William Kentridge tornou-se referência internacional e construiu uma carreira que inclui passagens pelas mostras mais importantes do mundo. Seus trabalhos borraram as fronteiras que um dia possam ter existido entre artes visuais e cinema.
Sua exposição já esteve em Porto alegre em março deste ano, e agora fica até novembro ma Pinacoteca do Estado, em São Paulo.


 
Maria Hirszman
Especial para O Estado de S. Paulo
28 de agosto de 2013

A Pinacoteca do Estado inaugura sábado a mostra Fortuna, uma ampla retrospectiva da obra de William Kentridge, que vem viajando pelo Brasil desde outubro de 2012, atraindo recordes de público em suas passagens pelo Rio e por Porto Alegre. A mostra tem em São Paulo sua versão mais completa e traça um abrangente resumo da obra do artista sul-africano, mostrando como é vasta a teia de meios, questões e linguagens exploradas por ele. São quase 300 obras (filmes, desenhos, gravuras, esculturas e instalações) que se articulam para evidenciar o processo de trabalho, deixando de lado uma linearidade formal ou cronológica.
 
Os dez filmes da série Drawings for Projections são destaque
O principal foco de atenção é A Recusa do Tempo. A videoinstalação, exibida pela primeira vez com grande destaque na última Documenta de Kassel, é uma espécie de sinfonia na qual se combinam diferentes aspectos da obra de Kentridge, como a recriação plástica de questões próprias à ciência, o resgate de elementos relativos ao teatro e a encenação de grandes performances, a retomada da ideia de circularidade e uma forma sutil – mas não menos enfática – de denúncia política.
A peça – que não pôde ser mostrada nas edições brasileiras da mostra anteriores e que, após São Paulo, seguirá para o Metropolitan Museum de Nova York – ocupa o Octógono, como é conhecido o espaço central da Pinacoteca, e funciona como uma espécie de isca e síntese do que o visitante vai encontrar nas salas climatizadas do museu. O público paulistano também terá a oportunidade de ver todos os dez filmes da série Drawings for Projections, bem como os desenhos resultantes do processo de criação das animações. O conjunto foi desenvolvido por Kentridge entre 1989 e 2011 e é considerado o alicerce fundamental de sua produção. O artista, que fará hoje uma palestra sobre seu trabalho a partir das 19h, falou ao Estado sobre seu processo de trabalho e o ciclo de exposições no Brasil.
A Recusa do Tempo, principal trabalho da mostra, pode ser considerado uma espécie de síntese da sua produção?
Eu trabalho muito com o teatro e a música tem uma forte centralidade nas minhas obras. A Recusa do Tempo é, na verdade, uma grande soma, uma obra em que muitas coisas feitas em tempos diferentes entram juntas em cena. O caráter coletivo dá-se sobretudo com os compositores, como Philip Miller, músico sul-africano que realizou a maior parte dos trabalhos desta exposição. É um movimento dialético entre o particular e o coletivo, mas essas parcerias também geram um grande espaço para que o imprevisível aconteça, as imagens gerando novos sons e a música provocando novas configurações visuais. Devo dizer que também tenho talento para escolher pessoas com quem trabalhar.
Por que você usa ferramentas simples, tecnologias consideradas ultrapassadas, definindo inclusive seus filmes como cinema da Idade da Pedra?
Em primeiro lugar, há a limitação da minha própria capacidade. Para mim, é possível produzir desenhos. Gosto, porém, de mostrar tecnologias e técnicas possíveis, capazes de dar uma sensação de poder. A mensagem é: você pode fazer isso!
Há em seu trabalho uma clara dimensão política, não? Uma maneira um tanto lírica e melancólica de tratar as questões da realidade. Você se considera um pessimista?
Sou pessimista e otimista ao mesmo tempo, porque vejo que esses dois futuros se desenvolvem simultaneamente. Quanto à questão política, eu diria que as dimensões políticas, pessoais e formais combinam-se no espaço do estúdio. É a vida ali que dá sentido a tudo, é lá que as ideias são desmanteladas e reconstruídas. Gosto de pensar no estúdio como uma grande cabeça na qual as ideias brotam, transformam-se, ganham corpo de forma muitas vezes surpreendentes até para mim.
Você poderia falar um pouco sobre De Como Nunca Fui Ministro de Estado, feito a partir do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas?
Eu queria fazer um trabalho sobre alguém preso dentro de um livro. As margens são seus limites. Outro aspecto importante é que quis trabalhar com esse livro, que adoro. Li há mais de 20 anos, quando saiu a edição em inglês, e fiquei encantado com como a obra de Machado de Assis tinha uma sensibilidade tão familiar tendo sido escrita há mais de cem anos. Essa é uma das conexões que a arte traz.
FORTUNA
Pinacoteca. Praça da Luz, 2, 3324-1000. 3ª a dom., 10h/18h; 5ª até 22 h. R$ 6 (sáb., grátis). Até 10/11. Abertura sábado, 11h.
Visual e em movimento
ZH – 30/01/2013
Exposição de William Kentridge é um dos destaques do ano em Porto Alegre
Com obras que fundem artes visuais e cinema, primeira mostra individual do artista sul-africano no país chega à Fundação Iberê Camargo em março.
Com carvão, papel e uma câmera de vídeo, o sul-africano William Kentridge tornou-se referência internacional e construiu uma carreira que inclui passagens pelas mostras mais importantes do mundo. E o principal: com trabalhos que borraram as fronteiras que um dia possam ter existido entre artes visuais e cinema.
Colecionando participações na Bienal de Veneza (Itália), na Documenta de Kassel (Alemanha) e na Bienal de São Paulo, o artista de 57 anos protagonizará uma das mais relevantes mostras do ano em Porto Alegre. William Kentridge: Fortuna revelará o perfil múltiplo do artista que trabalha com videoarte, desenho, escultura, gravura, instalação, teatro, ópera e cinema.
Seus desenhos filmados – ou filmes desenhados – são marcados por uma poética politizada que tem como inspiração as memórias evocadas pelo país do apartheid. Um dos destaques é o "flipbook" (livro animado) De Como não Fui Ministro d'Estado, criado especialmente para a mostra brasileira. O artista faz uma intervenção, desenhando sobre as páginas de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, o que resulta em um vídeo. A curadoria da mostra é de Lilian Tone, que trabalha no departamento de pintura e escultura do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA).