12 de outubro de 2006 - 08:32
Nobel de Literatura 2006 é
concedido ao turco
Orhan Pamuk
Pamuk,
de 54 anos,
receberá o prêmio como um escritor que
"encontrou novos símbolos para refletir o choque e a interconexão
das culturas" |
Orhan Pamuk, 54 anos
|
O escritor turco Orhan Pamuk,
cujo indiciamento por "insultar a cultura turca" levantou preocupações
sobre a supressão da liberdade de expressão no país,
é o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura 2006, comunicou nesta
quinta-feira a Academia Sueca da Língua. Pamuk, de 54 anos, receberá
o prêmio como um escritor que "em busca da alma melancólica de
sua cidade natal encontrou novos símbolos para refletir o choque e
a interconexão das culturas", segundo a explicação do
júri.
Pamuk era um dos mais fortes
candidatos ao Nobel. A decisão, que surpreendeu a poucos, foi recebida
com uma curta, mas intensa, salva de aplausos. Alguns de seus romances mais
conhecidos são "Meu Nome é Vermelho", e "Neve".
Em janeiro, uma corte turca descartou
acusações contra Pamuk, pondo fim a um julgamento que preocupou
observadores ocidentais e levantou dúvidas sobre o comprometimento
da Turquia com as liberdades individuais.
Pamuk foi levado a julgamento por dizer a um jornal suíço,
em entrevista publicada em fevereiro de 2005, que a Turquia tem dificuldades
de lidar com dois dos episódios mais dolorosos da história recente
do país: o genocídio de Armênios durante a 1ª Guerra
Mundial e os recentes embates com a guerrilha curda no sudeste do país.
"Trinta mil curdos e 1 milhão de armênios morreram nessas terras,
e ninguém ousa falar sobre isso a não ser eu", disse ele na
entrevista.
Ao agredecer pelo prêmio recebido nesta quinta-feira, ele comentou
as divisões entre ocidente e oriente. "Lamento que a existência
de dois pólos culturais, Oriente e Ocidente, tenha sido co-responsável
pela morte de muitas pessoas", disse o escritor, em Nova York, revelando-se
honrado com a premiação.
A escolha de Pamuk acontece em um momento particularmente sensível
no país de maioria muçulmana. A Turquia iniciou recentemente
negociações para se tornar membro da União Européia,
mas o bloco criticou o julgamento de Pamuk e de outros escritores acusados
de traição por nacionalistas turcos.
Segundo o presidente da academia suéca, Horace Engdahl, a situação
política na Turquia não afetou a decisão. "É claro
que (a decisão) poderá levar a alguma turbulência, mas
nós não estamos interessados nisso", disse ele. "Ele é
uma pessoa controversa em seu próprio país, mas outros vencedores
do prêmio também foram."
Engdahl acrescentou que Pamuk foi escolhido por ter "alargado as raízes
do romance contemporâneo" através da ligação entre
as culturas Ocidental e Oriental.
O escritor nasceu em 1952 em uma família de classe média alta.
Seu pai e seu avô eram engenheiros. Em sua juventude, sonhava em ser
pintor, mas estudou arquitetura e jornalismo. O escritor viveu nos Estados
Unidos de 1985 a 1988, convidado pela Universidade de Columbia de Nova York
e depois da Universidade de Iowa.