Prezados Colegas e Amigos da Psicanálise
Senhoras e Senhores
É com muito prazer que, em nome da Biblioteca Sigmund Freud, lhes
dou as boas vindas. E em nome da Biblioteca também agradeço
a presença de todos os presentes, e mesmo a daqueles que, embora interessados
no estudo do erotismo e de sua importância em nossa vida, por um motivo
ou outro estiveram impossibilitados de aqui comparecer. Mas agradeço
especialmente a presença dos nossos convidados de hoje, nossas colegas
Marisa Cherubini e Laura da Rosa, do nosso amigo Donaldo Schüler e do
Prof. Danúbio Gonçalves que ainda na semana passada inaugurou
uma exposição intitulada – superlativamente –
Erotíssima.
Embora os convidados sejam pessoas bem conhecidas de vocês, permitam-me
dizer-lhes algumas coisas a respeito deles, em especial de sua participação
nessa Mesa, pois sempre há algo a ser dito.
De Marisa Cherubini, que é Psicanalista e membro do EBEP, do Rio de
Janeiro, quero dizer-lhes de seu gosto pelas artes. Estudiosa profunda de
suas relações com a cultura, passou a se interessar e assim
conhecer, entre outras, a obra de Danúbio Gonçalves. Gostou
tanto, e viu nela tanto valor, que passou a colecionar as obras de Danúbio
e, com o passar do tempo, tornou-se mesmo uma amiga pessoal do artista. A
participação de Danúbio Gonçalves e boa parte
da organização dessa Mesa, devemos a ela.
De Laura da Rosa, também Psicanalista e membro SBPPA, de cuja revista
é Editora, quero dizer-lhes que quando começamos as primeiras
articulações para a organização dessa mesa, logo
tomamos conhecimento de que ela e o Donaldo estavam começando um curso
sobre a presença de Eros na Literatura e na Psicanálise. Nossa
amiga desde muito tempo, constituiu-se assim como um membro nato para essa
Mesa.
Do Donaldo, que posso dizer que vocês não saibam? Nem que ele
é um amigo muito querido é segredo. Todos o conhecem porque
ele sabe de tudo, mas também porque é dono de uma sabedoria
que não ofende ninguém. Talvez seja este um de seus valores
maiores. Em Porto Alegre, para não ir mais longe, pois certamente
poderia dizer, em Porto Alegre e derredores, os filósofos, os literatos,
os psicanalistas, os professores, enfim, os intelectuais das mais diversas
áreas lhe devemos algo. Pois outro dia, depois de me dar conta de
que ele provavelmente freqüenta todas as instituições
psicanalíticas de Porto Alegre, comecei a pensar que estas todas se
mantêm também por sua participação, sapiente,
coerente e erudita. Contudo, como ele mesmo enfatiza muitas vezes, não
é psicanalista. Sabemos que não só de pão vive
o homem. Ocupado desde muito com eros, seja com letra minúscula ou
maiúscula, o Professor Donaldo tem se ocupado com as diversas formas
de linguagem. Fez crítica, escreveu romances, rimances, tradutor de
estilos diferentes como o de Homero e o de James Joyce, e uma vez fez uma
observação que queria mencionar hoje: depois de visitar, em
Minas Gerais, a obra do Aleijadinho, me disse impressionado com as esculturas
que, além das formas, traziam também algo a mais, um texto.
Por isto, sob seu nome coloquei o Profeta Daniel, do Artista Antonio Francisco
Lisboa, também, segundo confissão de Danúbio Gonçalves,
um de seus próprios mestres. Ao lado de Daniel eu preferia ter colocado
uma outra pintura exposta na Casa Arte, com uma longa frase, mas não
tive acesso e então coloquei esta em que aparece o nome de Nefertiti,
paixão de minha adolescência.
Do Danúbio, que mesmo só o conhecendo pessoalmente a pouco
mais de um mês, e já nos tuteando, quero dizer dele um artista
canônico, impressionado que sou por seu respeito a determinados cânones.
Além de Antonio Francisco Lisboa, ele diz que seus mestres foram,
entre outros, desde Portinari, cujo atelier freqüentou; Diego Rivera
que, junto com Siqueiros, influenciou-o em muito na arte e na técnica
mural; Jan Van Eyck, que parece ter sido o primeiro a assinar uma pintura;
Miguel Ângelo, Velázquez, Rembrandt, El Greco, Goya, Lazar Segall,
Cézanne, Van Gogh e Matisse, com seus corpos alongados; Gauguin, Picasso
e Egon Schiele, cujos nus são retratados em posições
que quase sempre jogam com a força de figura e fundo buscando fazer
ver no que está, o que não está; Henri Moore, onde o
estudo da anatomia não é sem importância; e também
Lauro Giacometti, este surrealista suíço preocupado com os
contornos, marcas de limites sempre passíveis de serem deslocados
e mesmo rompidos, onde há sempre uma tensão entre a dissolução
e a ressurreição.
Entre as influências que vejo na sua obra, um destaque para Egon Schiele.
Vejam, por exemplo, nestas duas figuras, como ambas as mulheres parecem ser
também dotadas, no entre as pernas, de algo a mais.
Para finalizar minha apresentação queria mostrar como vejo
a utilização da clássica formação triangular.
Neste Bernini, por exemplo (A transverberação de Santa Teresa),
a formação triangular parece dominar a cena, mas sua presença
não é menos importante que a diagonal a cortar a figura. Nos
Danúbios, a composição das figuras é triangular;
enquanto na primeira são definidamente três figuras, onde a
intermediária – um Eros negro – faz também as vezes de uma
diagonal, na segunda parece ser a mesma figura multiplicada, quem sabe desde
as projeções de seu interior.
Mas enfim, o que importa mesmo, aqui e agora, é que em Eros vemos
antes de tudo uma força de atração a dizer da importância
do outro, da importância da alteridade. E é sobre isso que suponho
nossos convidados falarão.
Passo agora a palavra para Marisa Cherubini. Mas não sem antes esclarecer
nossa forma de trabalho. Após as exposições dos membros
da Mesa, A Maristela Leivas e a Maria da Glória, colegas da Biblioteca
que comparecem hoje como debatedoras dirão como escutaram as diferentes
exposições e logo passaremos a palavra a platéia para
iniciarmos os debates.