Caros colegas e amigos da Psicanálise.
Que minhas primeiras palavras sejam de boas vindas a essa memoração
do sesquicentenário do nascimento de Sigmund Freud.
Sejam todos bem-vindos.
Quero citar os nomes de Ester Menda e José Luiz Caon, nossos convidados
especiais para a mesa de hoje, para, através deles, agradecer a presença
de todos que hoje nos visitam. Em nome da Biblioteca Sigmund Freud dou-lhes
nossas boas-vindas. Além das pessoas presentes, há também
aqueles que por motivo de força maior, não podendo vir, se
fizeram presentes por sua simpatia. Entre eles, gostaria de destacar
Juan Carlos Mosca, Colega portenho e Diretor da Revista que hoje pretendemos
apresentar-lhes; ele nos diz que manter vivo o ensino de Freud é a
melhor homenagem que se lhe pode fazer, instigando-nos a seguir sustentando
o laço propiciado pelo discurso freudiano e propagando a peste. Nosso
Colega Paulo Medeiros, de Recife, que sempre acompanha, mesmo de longe, nossas
atividades, também se irmana a essa memoração, o que
faz também Eduardo Foulkes, desde Madrid, enquanto de Barcelona, nossa
Colega Amália Barceló, pede que lhe contemos, a posteriori,
como foi nossa viagem de Freiberg à Porto Alegre. E, claro, impossível
não mencionar a Sergio Rodríguez que propôs a inclusão
da notícia dessa nossa comemoração na revista eletrônica
Psyche-Navegante. O Prof. Donaldo Schüler que sempre gosta de assistir
às nossas atividades, impossibilitado de estar presente por estar
viajando, nos envia também seus votos de sucesso.
Permitam-me agora apresentar-lhes a revista Texturas em Psicoanalisis.
Com este novo número, em seu quinto ano de publicação,
ela deixa de se chamar
Texturas de Páremai, para chamar-se
Texturas em Psicoanálisis. Para tanto, ela muda também
seu formato e cria uma nova estrutura administrativa. Ao lado de seu Diretor,
Juan Carlos Mosca, e da Secretária de Redação Alicia
Raventos, está um Conselho de Redação formado por Ignácio
Guirao, Violaine Fua Púppulo e Silvia B. Rivello – também proprietária
da Revista - assessorado por um Comitê de Leitura e Arbitragem formado
por Osvaldo Couso, Rolando Karothy, Laura Lueiro, Roberto Neuburguer e Luiz-Olyntho
Telles da Silva.
Esse número traz uma série de artigos dedicados às
escrituras, assinados por Juan Carlos Mosca, Ignácio Guirao, Maria
da Glória S. Telles da Silva, Osvaldo Delfabro, Julio Palacio e Osvaldo
M. Couso, além de uma notícia sobre um Congresso de Letras
e duas resenhas bibliográficas.
Aí está. Na mesa de hoje, os textos dessa revista serão
tomados como pontos de partida pela Ester, a Maria da Glória e a Maristela,
enquanto o Caon abordará a questão da lógica da escrita.
Ester Menda procurará deter-se na delicada questão da escrita
musical, tema que de um ou outro modo suponho estará presente em
todas as apresentações. Imagino que Maria da Glória
fará uma relação entre Borges, Joyce e Lacan e que Maristela
Leivas se dedicará a um estudo do Édipo feminino em uma personagem
de Flaubert, enquanto José Luiz Caon nos surpreenderá com
uma particular leitura do punção de Lacan.
Antes de passar a palavra aos nossos interlocutores de hoje quero dizer
ainda umas poucas coisas sobre o nosso tema: preocupa-nos sempre o modo
como o significante se faz carne, como ele se inscreve no aparelho psíquico.
Isso desde a primeira constituição do sujeito, digamos assim,
até suas possíveis modificações.
Aparentemente há uma diferença entre a palavra escrita e
a palavra oral. O dístico de abertura de nossa convocatória
o sugere. Muito conhecido, este apotegma de origem medieval era usado para
dizer que não se deve confiar nas promessas feitas oralmente, mas que
se deve exigir uma transcrição. Mas, como sempre, as coisas
nascem com uma intensão e o uso em geral as leva para outro lado. O
fato de a palavra
verba vir associada ao verbo
voar traz algumas
conseqüências: uma vez emitida, a palavra não pode mais
ser revertida. Horácio se ocupou disso dizendo
nescit vox missa
reverti na sua Arte Poética. Está em jogo aí um
antigo fragmento de Eurípides, o 1044 N, que diz assim:
(não é fácil frear uma pedra que
se deixou escapar da mão, nem um discurso da língua)
Aqui o soltar parece um equivalente de voar. As palavras, como as pedras,
voam pelo ar, são levadas com o vento, denominado pelos gregos de
. Mas acontece que
pneuma, o vento, o sopro, a respiração,
é também traduzido por
espírito. E aí
encontramos uma frase de São Paulo que possivelmente não tenha
sido estranha a Foucault: na segunda Epístola aos Coríntios
(3,6) ele declara que Cristo os tornou aptos para serem ministros de uma Aliança
nova, não da letra, mas sim do espírito, porque, como diz na
versão dos Setenta,
(
pois a letra mata, mas o Espírito comunica a vida.)
ou, como aparece na
Vulgata de São Jerônimo,
littera enim occidit, spiritus autem vivificat.
Letra está aqui, não sem maldade por parte de São
Paulo, quer me parecer, como referência à Torá, como
à palavra escrita, enquanto Espírito conota a palavra oral.
Pois bem, vejamos o que dizem os colegas. Havendo tempo eu também
lhes direi o que penso.