Página da Biblioteca Sigmund Freud
Freudtag
2006
por
Luiz-Olyntho Telles da Silva

Caros colegas e amigos da Psicanálise.

Que minhas primeiras palavras sejam de boas vindas a essa memoração do sesquicentenário do nascimento de Sigmund Freud.

Sejam todos bem-vindos.

Quero citar os nomes de Ester Menda e José Luiz Caon, nossos convidados especiais para a mesa de hoje, para, através deles, agradecer a presença de todos que hoje nos visitam. Em nome da Biblioteca Sigmund Freud dou-lhes nossas boas-vindas. Além das pessoas presentes, há também aqueles que por motivo de força maior, não podendo vir, se fizeram presentes por sua simpatia. Entre eles, gostaria de  destacar Juan Carlos Mosca, Colega portenho e Diretor da Revista que hoje pretendemos apresentar-lhes; ele nos diz que manter vivo o ensino de Freud é a melhor homenagem que se lhe pode fazer, instigando-nos a seguir sustentando o laço propiciado pelo discurso freudiano e propagando a peste. Nosso Colega Paulo Medeiros, de Recife, que sempre acompanha, mesmo de longe, nossas atividades, também se irmana a essa memoração, o que faz também Eduardo Foulkes, desde Madrid, enquanto de Barcelona, nossa Colega Amália Barceló, pede que lhe contemos, a posteriori, como foi nossa viagem de Freiberg à Porto Alegre. E, claro, impossível não mencionar a Sergio Rodríguez que propôs a inclusão da notícia dessa nossa comemoração na revista eletrônica Psyche-Navegante. O Prof. Donaldo Schüler que sempre gosta de assistir às nossas atividades, impossibilitado de estar presente por estar viajando, nos envia também seus votos de sucesso.

Permitam-me agora apresentar-lhes a revista Texturas em Psicoanalisis.

Com este novo número, em seu quinto ano de publicação, ela deixa de se chamar Texturas de Páremai, para chamar-se Texturas em Psicoanálisis. Para tanto, ela muda também seu formato e cria uma nova estrutura administrativa. Ao lado de seu Diretor, Juan Carlos Mosca, e da Secretária de Redação Alicia Raventos, está um Conselho de Redação formado por Ignácio Guirao, Violaine Fua Púppulo e Silvia B. Rivello – também proprietária da Revista - assessorado por um Comitê de Leitura e Arbitragem formado por Osvaldo Couso, Rolando Karothy, Laura Lueiro, Roberto Neuburguer e Luiz-Olyntho Telles da Silva.

Esse número traz uma série de artigos dedicados às escrituras, assinados por Juan Carlos Mosca, Ignácio Guirao, Maria da Glória S. Telles da Silva, Osvaldo Delfabro, Julio Palacio e Osvaldo M. Couso, além de uma notícia sobre um Congresso de Letras e duas resenhas bibliográficas.

Aí está. Na mesa de hoje, os textos dessa revista serão tomados como pontos de partida pela Ester, a Maria da Glória e a Maristela, enquanto o Caon abordará a questão da lógica da escrita. Ester Menda procurará deter-se na delicada questão da escrita musical, tema que de um ou outro modo suponho estará presente em todas as apresentações. Imagino que Maria da Glória fará uma relação entre Borges, Joyce e Lacan e que Maristela Leivas se dedicará a um estudo do Édipo feminino em uma personagem de Flaubert, enquanto José Luiz Caon nos surpreenderá com uma particular leitura do punção de Lacan.

Antes de passar a palavra aos nossos interlocutores de hoje quero dizer ainda umas poucas coisas sobre o nosso tema: preocupa-nos sempre o modo como o significante se faz carne, como ele se inscreve no aparelho psíquico. Isso desde a primeira constituição do sujeito, digamos assim, até suas possíveis modificações.

Aparentemente há uma diferença entre a palavra escrita e a palavra oral. O dístico de abertura de nossa convocatória o sugere. Muito conhecido, este apotegma de origem medieval era usado para dizer que não se deve confiar nas promessas feitas oralmente, mas que se deve exigir uma transcrição. Mas, como sempre, as coisas nascem com uma intensão e o uso em geral as leva para outro lado. O fato de a palavra verba vir associada ao verbo voar traz algumas conseqüências: uma vez emitida, a palavra não pode mais ser revertida. Horácio se ocupou disso dizendo nescit vox missa reverti na sua Arte Poética. Está em jogo aí um antigo fragmento de Eurípides, o 1044 N, que diz assim:

Euripides  
(não é fácil frear uma pedra que se deixou escapar da mão, nem um discurso da língua)

Aqui o soltar parece um equivalente de voar. As palavras, como as pedras, voam pelo ar, são levadas com o vento, denominado pelos gregos de pneuma . Mas acontece que pneuma, o vento, o sopro, a respiração, é também traduzido por espírito. E aí encontramos uma frase de São Paulo que possivelmente não tenha sido estranha a Foucault: na segunda Epístola aos Coríntios (3,6) ele declara que Cristo os tornou aptos para serem ministros de uma Aliança nova, não da letra, mas sim do espírito, porque, como diz na versão dos Setenta,

Corintios    
(pois a letra mata, mas o Espírito comunica a vida.)

ou, como aparece na Vulgata de São Jerônimo,

littera enim occidit, spiritus autem vivificat.

Letra está aqui, não sem maldade por parte de São Paulo, quer me parecer, como referência à Torá, como à palavra escrita, enquanto Espírito conota a palavra oral.

Pois bem, vejamos o que dizem os colegas. Havendo tempo eu também lhes direi o que penso.